Candidatura do Qatar para Mundial de atletismo tem evidências de corrupção

18/11/2016 21:13

"Le Monde" diz que há indícios de pagamento para escolha de Doha como sede da competição em 2017, que será em Londres. Capital qatari ganhou disputa para 2019.

 
Uma empresa fundada por um ex-membro da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf) teria recebido dois pagamentos totalizando 3,5 milhões de libras (R$ 14,6 milhões) alguns dias antes de o Qatar falhar na candidatura para sede do Mundial de 2017 e enquanto ainda era candidata para receber a Olimpíada de 2020. 

De acordo com o jornal francês "Le Monde", os pagamentos foram feitos em 2011 e eram provenientes da Oryx Catar Sports Investiments (QSI), um braço do governo qatari, para a Pamodzi Sports Marketing, empresa fundada pelo senegalês Papa Massata Diack, ex-consultor de marketing da Iaaf e filho do ex-presidente da entidade, Lamine Diack, afastado por corrupção. 

Banido pelo resto da vida da política esportiva por corrupção, Papa Massata Diack negou ter agido dessa maneira em dezembro de 2014, quando o jornal britânico "The Guardian" revelou e-mails que pareciam mostrar que ele havia pedido US$ 5 milhões (R$ 17 milhões) em pagamentos da QSI em 2011. A Federação de Atletismo do Qatar também negou qualquer irregularidade, embora os promotores franceses acreditem estar diante de processos de licitação suspeitos de corrupção para todos os campeonatos mundiais entre 2009 e 2022. 

Segundo o "Le Monde", há evidências de uma transferência bancária de 3 milhões de libras (R$ 12,5 milhões) em 13 de outubro de 2011 da QSI para Pamodzi, e outra de 500 mil libras (R$ 2 milhões) em 7 de novembro, quatro dias antes do pleito que acabou escolhendo Londres como sede do Mundial de atletismo de 2017. Três anos depois, Doha era finalmente eleita para receber o Mundial de 2019 após mandar, alguns minutos antes da votação, uma carta para membros do conselho da Iaaf prometendo 23,5 milhões de libras (R$ 98 milhões) em patrocínio e direitos de televisão. A Iaaf tem insistido na prática de oferecer incentivos de última hora cumpridos com suas regras de licitação.

Papa Massata não foi encontrado pela reportagem do "Le Monde" para comentar o caso. Procurado pela Interpol por recebimento de propinas, corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, ele está escondido no Senegal. Foi banido de qualquer cargo no esporte pelo resto da vida pelo comitê independente de ética da Iaaf por corrupção e ligação com o esquema de doping da Rússia. Papa também é suspeito de ter enviado parcelas para membros influentes do Comitê Olímpico Internacional, de acordo com "The Guardian". 

Enquanto isso, seu pai Lamine, presidente da Iaaf entre 1999 e 2015, vai voltar à corte em Paris na próxima segunda-feira. Com 83 anos, ele é acusado de aceitar mais de 1 milhão de libras (R$ 4 milhões) para acobertar testes positivos de doping. Ele corre risco de ir para a prisão se não pagar uma fiança.