Ex-atleta olímpica recorda distúrbio que a fez virar prostituta: "Destrutivo"

15/10/2016 18:01

Suzy Favor Hamilton chegou a se tornar prostituta de luxo em meio a problemas mentais após ter sido diagnosticada erradamente: "Estava destruindo meu casamento".

 

A ex-corredora olímpica Suzy Favor Hamilton fez de sua vida um livro após sofrer na pele os danos causados pelo transtorno bipolar, doença ligada a problemas mentais. A atleta americana viveu cedo o brilho de se tornar uma estrela promissora nas pistas no início dos anos 90, mas acabou vendo um diagnóstico errado a levar para dentro do seu distúrbio em direção ao mundo das drogas e da prostituição. Hoje recuperada, autora de uma autobiografia, ela espera servir de exemplo para as outras pessoas. Em entrevista ao “Planeta SporTV”, Suzy relembrou a época em que, no auge do seu desvio de comportamento, atuou como uma prostituta de luxo em Las Vegas (EUA). 

- Quando me tornei prostituta, não poderia ser uma simples prostituta. Eu tinha que chegar a um nível mais alto, ser a melhor. Como na corrida, você tem um ranking, número um do mundo, número um dos EUA. Eu não queria sair daquele estado de êxtase. Era incrível. Por que sair de algo que te faz tão bem? Mas no transtorno você não percebe que o risco é destrutivo e faz mal a si e às pessoas ao seu redor. Eu estava destruindo meu casamento – recorda.

Suzy nasceu em Stevens Point, no estado americano de Wisconsin. Desde cedo já se destacava nas corridas durante as aulas de educação física. Rapidamente se tornou uma especialista em provas de meio-fundo, como 800 e 1.500m. Foi nove vezes campeã universitária e despertou o interesse de empresas multinacionais, fechando vantajosos acordos publicitários. No entanto, Suzy nunca soube lidar com a pressão do esporte. Disputou três Olimpíadas (1992, 1996 e 2000), mas sempre passou longe do pódio, apesar se estar bem cotada para ganhar medalhas. Se por um lado se revelou uma promessa olímpica precoce, Suzy também já encarava problemas desde pequena. Enquanto adolescente, sofreu de bulimia, distúrbio que leva a pessoa a emagrecer propositalmente. Após as refeições, forçava o vômito no banheiro por se achar acima do peso sempre.

- Eu tinha essa imagem de que eu era gorda quando olhava no espelho. Eu ainda era muito magra, mas não conseguia me ver assim. Não tinha a menor ideia das consequências para a minha saúde, os riscos e danos para o meu corpo – relembra. 

O distúrbio bipolar sempre a acompanhou durante e depois de sua carreira esportiva. Um erro de diagnóstico médico, no entanto, apontou o seu problema como depressão, impedindo que Suzy tomasse a medicação correta e tratasse o problema. Após decidir se aposentar das pistas, o aspecto mais tenebroso de sua doença veio à tona. Apesar de ganhar mais tempo com a família, também viu seu interesse em sexo e drogas crescer. Poucos meses depois do 20º aniversário de casamento com seu marido Mark, se transformou em prostituta de luxo em Las Vegas. A prostituição e o sexo com estranhos faziam parte da doença. Não era suficiente, precisava de mais. Então comecei com as drogas, álcool, eu precisava ficar mais “alta”. Eu conseguia fazer qualquer coisa, era invencível. Quando você tem uma doença mental, simplesmente isso não vai embora – recorda. 

Como qualquer pessoa que sofre de transtorno bipolar, Suzy tinha alterações acentuadas de humor. A doença aumenta a vontade sexual, o comportamento desinibido, a energia excessiva, tudo acompanhado do abuso de álcool e drogas.

- Se eu tivesse uma mente saudável, seria completamente diferente. Não havia ainda psicologia do esporte. Eu cresci com a mentalidade de que nunca se deve mostrar suas fraquezas. Se você naquele dia está se debatendo mentalmente, você mostra uma cara corajosa de quem é forte e não falar dos seus problemas. Isso é perigoso porque os problemas começam a crescer na sua cabeça. 

Suzy chegou a se tornar uma das prostitutas mais bem pagas de Las Vegas aos 43 anos. Vivia uma vida dupla, como mãe e esposa em Wisconsin e profissional do sexo na cidade dos casinos. Depois de um ano e meio, um tabloide descobriu a história da ex-corredora e a tornou pública. A reportagem caiu como uma bomba no meio esportivo, na família e na vida de Suzy. Após tentar o suicídio, ela procurou ajuda médica novamente e descobriu o erro de diagnóstico feito anos atrás.

- Eu posso falar dos Estados Unidos, onde muitas pessoas são diagnosticadas erradamente muito facilmente, porque estive apenas dez minutos com o médico. Em dez minutos, ele me diagnosticou como sofrendo de depressão, mas em 10 minutos não é possível diagnosticar alguém. Ele perdeu o componente-chave, nunca me perguntou sobre meu histórico familiar com doenças mentais. Se tivesse me perguntado, eu teria dito “sim, meu irmão morreu de suicídio porque era bipolar” - relembra.

O transtorno de Suzy não possui cura e afeta cerca de 4% da população mundial. Com a medicação correta, passou a ser controlado. Atualmente, ela mora na Califórnia e vive uma vida saudável ao lado do marido e da filha, de dez anos. Praticamente de yoga, a ex-promessa olímpica corre e toma uma taça de vinho de vez em quando. 

Em 2015, Suzy lançou o livro “Fast Girl”, que conta sua história de vida. As páginas rapidamente se tornaram best-seller. Após viver os percalços do transtorno bipolar, ela espera se tornar um exemplo para evitar que casos como o seu se repitam. 

- Eu estou determinada a provar para as pessoas como um diagnóstico errado, como um antidepressivo pode fazer para alguém, mudar você se você é bipolar e usa um remédio errado.