Verônica Hipólito faz cirurgia para tirar tumor três meses após pódios no Rio

20/12/2016 12:30

Massa na cabeça quase dobrou de tamanho nos últimos meses e pressiona nervo óptico da atleta, que mantém otimismo mesmo após perder parte da visão periférica.

 

O sorriso de menina esconde a longa lista de provações enfrentadas por Verônica Hipólito em seus 20 aninhos de vida. Se atletas de elite costumam ter lesões e outros atletas como adversários, a velocista tem no próprio corpo um grande obstáculo para exibir seu talento nas pistas de atletismo: já retirou um tumor do cérebro, teve um AVC e extraiu 90% do intestino grosso. Apenas três meses após celebrar a conquista de duas medalhas na Paralimpíada do Rio, a brasileira descobriu que um tumor que tem na cabeça quase dobrou de tamanho. Diante do risco de agravar as perdas recentes na visão, o tratamento conservador com medicação dará lugar a uma cirurgia. Se tudo correr como Verônica espera, até o fim do ano.

A velocista lidou com a retirada de outro tumor, no cérebro, quando tinha apenas 12 anos de idade. Dois anos mais tarde, sofreu um AVC e teve como sequela uma limitação de movimento do lado direito do corpo – lesão que a permitiu migrar para o paradesporto e competir contra atletas com paralisia cerebral, da classe T38, que possuem restrições locomotoras semelhantes as dela.

Verônica tornou-se campeã mundial dos 200m, em Lyon, aos 17 anos. A defesa do título, no entanto, não pôde ser feita. Logo após competir no Parapan de Toronto, em 2015, a atleta se precisou retirar mais de 90% do intestino grosso, que na época tinha mais de 200 pólipos. A cirurgia foi bem-sucedida, mas foi impossível correr no Mundial de Doha. 

A caminhada rumo à Paralimpíada do Rio foi interrompida mais uma vez devido a uma ruptura muscular entre a coxa e o joelho. O tratamento intenso durou quase dois meses, e mesmo sem a mesma qualidade de treinos Verônica foi capaz de se recuperar o bastante para conquistar uma prata nos 100m e um bronze nos 400m da T38.

Depois da festa, Verônica revelou que convivia desde 2013 com outro tumor na cabeça, desta vez à frente do cérebro, atrás do nervo óptico. Felizmente não era maligno. No começo, tomava um medicamento uma vez por semana. A dose foi ampliada até tornar-se diária. Mesmo assim, no final do ano passado, o crescimento da massa pressionou terminações nervosas e gerou a perda da visão periférica da atleta no lado direito. Um exame realizado há cerca de duas semanas, no entanto, ligou o alerta. O tumor aumentou 0,9cm desde a última verificação, no meio do ano. Assim, a cirurgia tornou-se necessária. O procedimento será realizado tão longo as burocracias de internação sejam resolvidas. 

- Eu quero operar até o final do ano, não sei como vai ser. Às vezes penso porque toda hora acontece algo comigo, mas o Yó (Yohansson Nascimento, campeão paralímpico no atletismo) me diz que minha missão é mostrar para as pessoas que se deve ter esperanças. Todas as vezes em que precisei operar algo fui corajosa e recomecei, voltei a treinar, batei recorde na Paralimpíada. Independentemente do que tiver, tento pensar que o copo sempre vai estar meio cheio – disse Verônica.

O otimismo da atleta impressiona, mas em parte é também baseado em opiniões médicas. Verônica diz ter escutado de um dos médicos de sua equipe que, uma vez que o nervo óptico não fique mais comprimido, é possível que sua visão periférica retorne. 

O tempo que ficará parada, porém, pode custar à atleta a participação em mais um Mundial. Parte da preparação de base para a temporada já foi perdida, e todo processo de retomada de ganho de força teria que ser feito mais à frente, deixando menos tempo para lapidar a técnica na pista e participar de competições menores para evoluir até o torneio em Londres, marcado para julho de 2017. 

- Não estou pensando no Mundial porque vai ser cedo, vai ter pouquinhas competições antes, e perdi treinos de base. Tenho que me recuperar. Sem saúde não vou a lugar nenhum. Primeiro quero voltar a ficar bem. Quando estiver bem clinicamente vou voltar para a fisioterapia, depois para a pista. Se eu conseguir voltar no Mundial e buscar uma medalha de qualquer cor vou estar absurdamente feliz, mas primeiro vou pensar na minha saúde. Como diz o Yó (Yohansson), eu só tenho 20 anos. Vou ter muitos mundiais pela frente.